Resolvi criar uma newsletter por três motivos que se somam: amo newsletters (e as leio muito antes de serem cool), amo escrever e sinto uma necessidade quase compulsiva de conversar sobre a vida e expandir horizontes.
As palavras são para mim como pedras de paralelepípedo que, ao serem colocadas lado a lado, formam um caminho para que o meu sentir percorra até o seu coração. Nesta analogia, poderia dizer que afetos e vínculos se tornam meios de transporte que vão nos carregando nesta jornada de transformação. Estamos mudando o tempo todo.
Mas o impulso de criar é logo freado pelo medo. Ao me sentar para fazer as configurações iniciais da plataforma fui levada à algumas leituras sobre o tema e pronto, a insegurança já bateu à porta. Será que não era melhor manter o blog? Não deveria me esforçar para escrever conteúdos com até 2.000 caracteres e continuar postando no Instagram?
Escutei da Jamile Coelho, minha mais nova amiga, que ela hoje, aos seus 70 e poucos anos, continua carregando em si a adolescente que foi, juntamente com a coragem que sempre teve para seguir tentando mesmo sem garantias de sucesso.
E pude perceber que essa leveza nunca me acompanhou. Tudo o que fiz foi sempre partindo do princípio de que precisaria dar certo – e se desse errado, então seria um fracasso. Essa visão, além de ser estreita, é extremamente castradora.
O medo já está ao nosso lado o tempo todo. Faz parte da vida e tem seu papel. É ele que nos leva a fugir de um predador. É ele que nos faz respeitar os limites do nosso corpo. É um alerta, que nos chama a atenção para algo que precisa ser olhado. O problema é quando ele se torna excessivo e, consecutivamente, paralisador.
Essa mesma amiga, Jamile, que dedicou sua vida inteira para a educação, fala sobre essa questão em seu livro Chama Acesa:
O erro foi tão deturpado, que passou erroneamente a ser vinculado com o medo. Em vez disso, o erro deve ser desafiador, que nos mostra que a direção não é aquela ou precisa de um ajuste, que nos faz refletir para entender melhor.
Desconstruir as ideias de sucesso e fracasso é extremamente necessário para que possamos mudar. Caso contrário, escolheremos permanecer no mesmo lugar, tantas vezes desconfortável, porém conhecido, no qual nossos horizontes nunca serão ampliados.
E sabe como a gente de fato aprende algo novo? Se jogando no mundo. Colocando ideias em prática. Saindo das hipóteses da mente dual (vai dar tudo certo e será magnífico! Ou vai dar tudo errado e minha vida estará acabada!) e adentrando as mil e uma possibilidades que a vida real nos apresenta – e que costuma nos surpreender. Sim, é a partir da experiência que incorporamos um novo aprendizado.
Por um tempo, a tela de bloqueio do meu celular tinha um uma frase que li no livro “O Caminho do Artista”, da Julia Cameron: Salte e a rede vai aparecer. Digo isso, pois para você, este talvez seja apenas mais um texto escrito por mim. Mas para mim, esse texto representa um salto. O início de mais uma forma que encontrei de estar neste mundo. E, consecutivamente, de me expor. Sem garantias.
E Se? nasceu da minha experiência de vida. Foram quase trinta anos acreditando que só existia uma forma de se viver. Se eu pudesse contar para a Bruna de 2016 que hoje, em 2023, ela estaria escrevendo este texto sentada na varanda da sua casa em Monteiro Lobato, com a vista para as montanhas, e escutando o barulho da água correndo a alguns metros à sua frente, com certeza ela daria risada.
Precisei desconstruir muitas coisas para chegar até aqui.
E é por isso que escrevo. Porque acredito que existe milhões de possibilidades de ser e viver neste mundo. Mas para isso é preciso abertura para conhecer o novo. Coragem para mudar, mesmo correndo o risco de encarar o fracasso. Humildade para assumir quando algumas escolhas nos levarem para lugares indesejados. Desapego para mudar de rota quantas vezes forem necessárias. E força para não desistir – como aprendi no yoga, basta descansar e começar tudo de novo.
Quando a vergonha se torna um estilo de gerenciamento, a motivação vai embora. Quando errar não é uma opção, não existe aprendizado, criatividade ou inovação.
A Coragem de Ser Imperfeito - Brené Brown
E se não der certo?
Bom, se nada sair como o planejado, eu sei que terá valido a pena, simplesmente porque neste exato momento escrever tudo isso me preencheu.
E para você? Como é se relacionar com o erro? Como acha que seria o mundo se tivéssemos mais coragem de falhar? Se, desde pequenos, fossemos ensinados a acolher o erro ao invés de julgá-lo?
Linda reflexão Bruna!
É realmente muito difícil nos libertarmos da aversão ao risco e da obrigação que nos impomos de “dar certo”.
Seu texto me levou para um lugar de acolhimento e encorajamento. Afinal, a vida é cheia de possibilidades, mas precisamos nos lembrar constantemente disso. “E se” é libertador! Obrigada querida :)
Aconteceu comigo esta semana algo muito parecido com o texto.
Recebi uma mensagem/proposta pelo Instagram e que me direcionava para a página do usuário e a proposta era sobre vender 2 artes que estavam publicadas na minha página, esta proposta incluia eu me cadastrar na plataforma de NFT chamada opensea, (onde é criado um registro da arte e atestando que eu sou o autor e que não existe outra igual), e nessa plataforma ele compra minhas artes em criptomoeda.
O valor oferecido por ele por cada arte, era de 6 ethereum, que é uma das criptomoedas, e cada ethereum era cotado no dia por 1660 dólares, o que daria algo em torno 98000 mil reais pelas duas. Isso me encheu de esperança, entusiasmo, e tudo mais que alguém pode sentir vendo seu trabalho sendo valorizado financeiramente. Mas para minha decepção, depois de muita conversa via Instagram para viabilizar a venda, o "comprador" começou a falar que não estava conseguindo fazer a compra e que era para eu entrar em contato com o suporte da plataforma para verificar o que podia estar acontecendo e que possivelmente eu precisava ter um saldo na carteira da plataforma para poder fazer a transação, realmente a opensea cobra uma taxa de transação, mas só na hora que a venda é concretizada. Depois que pesquisei sobre a idoneidade da opensea, fiz um depósito em criptomoeda para a minha carteira. E o comprador continuava dizendo que não conseguia fazer a compra e foi aí que ele se mostrou, pediu para que eu depositasse através de um email, passado por ele, com o endereço da página da opensea e com um código para fazer o depósito. E descobri a farsa. Era o chamado golpe "phishing", muito comum nesse mundo de criptomoedas e NFT. Dei uma banana pra ele e soltei o dedo do meio encerrando a transação e bloqueando o indivíduo.
E depois que passou a frustração por não ter as verdinhas na minha conta e a perda de tempo e foco com minhas outras atividades, me dei conta que o aprendizado que tive pesquisando sobre criptomoedas, NFT, sobre arte na web e como funcionam as plataformas de marketplace, e até sobre o golpe que eu quase sofri, foi um ganho, pois já estava querendo fazer vendas das minhas artes usando NFT. Esse acontecido serviu para que eu tomasse atitude e já vou começar mandar mais trabalhos para a plataforma e usar esse canal de divulgação e venda do trabalho.
E todo desfecho dessa transação de venda para esse comprador golpista e a descoberta do quase golpe, foi feita pelo neto da minha mulher que estava como intermediário e descobriu a farsa.
Se não fosse por ele, eu teria tomado na cabeça e ficaria só com o aprendizado.