O ano era 2010. 2011, talvez. O sol já tinha se retirado, mas o trabalho estava longe de acabar. A cliente, que tinha fama no "mercado" de ser uma pessoa difícil, estava na agência naquele dia.
Depois de fazer algum comentário sobre o que havia acabado de apresentar, em que, claramente, eu devo ter feito uma cara de puta que o pariu, ela se aproximou de mim, colocou suas mãos na minha cintura e, balançando meu quadril de um lado para o outro, disse que eu precisava ter mais jogo de cintura.
Aquilo foi tão violento que não consegui conter as lágrimas. Não na frente dela, claro. E também não na cabine do banheiro. Chorei foi em "confidência" com uma amiga, no meio do corredor. O choro vinha da raiva. E, por cima do choro da raiva, vinha também o choro pelo simples fato de estar chorando - na época, achava que não conseguir conter a água dos olhos era coisa de gente fraca e achava também que eu era tudo menos fraca.
Olhando em retrospectiva, os piores feedbacks que recebi na vida foram, de uma certa forma, os mais importantes. Claro, não gostei nem um pouco da forma como aconteceram. Este, por exemplo, nos dias atuais poderia ser chamado de assédio, mas a verdade é que provavelmente se fosse apenas um “toque amizade” não teria surtido efeito algum.
Estamos em 2023 e essa memória ressurge fresca. Ando precisando praticar o tal movimento de quadril.
Tive a alegria de participar de uma ligação em que a
da falou sobre planejamento de 2024. Foi uma experiência rica, mas confesso que nos primeiros 10 minutos já tinha escutado o que mais precisava no momento: o planejamento pode e deve ser flexível. Tão óbvio. E, ainda assim, tão oportuno.Dia desses voltei para um passado mais recente, quando estava em outra casa, cheia de outras ideias, escrevendo sobre outros sonhos e metas, e ao visitar meus escritos daquele momento, bateu uma alegria por todas as conquistas deste ano, mas também uma decepção com aquilo que não se concretizou.
Seguindo o conselho da Vanessa, ao me permitir rever o planejado, percebo que o que não se concretizou tem raízes em: 1) o fato de eu ter mudado e já não querer verdadeiramente parte das coisas; e 2) coisas não previstas, e ainda assim muito maravilhosas, apareceram no meio do caminho.
O ano ainda não acabou, mas a vitória já está garantida - sabe quando o placar está 7x0 e virar já não é mais uma opção? Então, me sinto assim. Colocando em prática o tal jogo de cintura, permitindo olhar para aquelas metas sem tanta rigidez, abrindo espaço para a flexibilização com as (lindas) novas coisas que apareceram no caminho, posso dizer que foi um ano melhor do que o planejado.
Rigidez, inflexibilidade e controle podem parecer só palavras, mas dizem muito de quem eu fui. São lembranças de uma vida dura, sem brilho, sem movimento. Traços de personalidade que foram construindo a Bruna-difícil-de-trabalhar, a Bruna-perfeccionista, a Bruna-que-precisou-adoecer para ser lembrada de que, apesar de serem apenas palavras, são também ladras de brilho nos olhos e vida.
Estamos na reta final do ano, mas já estou direcionando meu olhar para o novo. Para a versão que escolho ser e para as palavras que escolho cultivar: fluidez, flexibilidade e confiança.
E bora começar a planejar o novo de novo <3
De fora para dentro
Uma música
Um texto
Um podcast
Nos vemos semana que vem ;)
E até a próxima lua!
Amiga, essa luta é tão nossa...
Eu nunca tive o hábito de fazer metas para o ano. Acho que, para 2024, a minha única meta seria continuar sendo eu mesma, apesar de.
Beijo! Obrigada pelo texto!
Como sempre, eu me identifico com o que você expressa e viveu. Agradeço por compartilhar. <3
Eu abandonei o hábito de listar metas, havia duas delas que sempre findavam não-cumpridas, e eram as que eu mais gostaria de realizar.
Uma delas, curiosamente, eu conquistei depois que desisti de esperar por ela. A outra decidi rever depois de te ler; é um desejo que envolve outras pessoas, conversa com uma certa nociva necessidade de controlar o outro, com minha arrogância de julgar que sei o que é melhor para todos. Agora vejo que não é sobre mim. E você me ajudou nessa análise. ;)