Claro, é preciso impulso para sair da inercia e sei bem que inícios têm seus desafios. Mas depois que começa, não é como se você escorregasse ladeira abaixo e em segundos chegasse lá. O primeiro passo é apenas o primeiro passo. Depois é preciso dar o segundo, o terceiro, o quarto.
Começar não é o difícil, difícil mesmo é não desistir, diz a sabedoria popular, e eu concordo.
O difícil é não se desviar do caminho. Encontrar um arbusto enorme em sua frente e não voltar atrás. É seguir mesmo com chuva, mesmo com frio, mesmo com medo. Difícil é dormir e acordar e fazer tudo de novo.
O difícil é não se esquecer de persistir. De seguir, mesmo quando o mundo te diz que seu plano parece de louco, que este caminho não vai dar em nada, que não existe futuro para “pessoas como você”. É escutar tudo o que dizem e, ainda assim, dar mais um passo à frente.
O difícil é não contar mentiras para si. A mente é muito criativa e é fácil um dia você acordar e se escutar tendo um pensamento que vai te parecer original e que te diz que na verdade você não queria tanto assim. Ou então, que vai te falar que aquele outro caminho seguro é que era na verdade o seu caminho, o que você sempre fez e por isso faz bem e por isso mesmo deveria seguir fazendo até que a vida acabe.
O difícil é não se distrair. Olhar para o lado e ver o amigo fazendo algo que parece incrível e muito mais infalível, além de trazer uma alegria genuína para ele e, então, sem perceber, te levar a perseguir este outro caminho, quando tudo o que você queria na verdade era aquela alegria que nem deve ser tão alegre assim.
O difícil é não se comparar. E olhar para o outro amigo, que faz exatamente aquilo que você achou que te faria feliz, mas para ele parece fácil, para ele parece que era para ser, que tudo aconteceu como deveria acontecer e hoje ele tem sucesso enquanto para você será sempre um sufoco, e haverá sempre a preocupação com o fim do mês e com o que os outros vão pensar e com o que talvez nem pensem, pois talvez nem se interessem por você, apenas pelo seu amigo.
O difícil é não sucumbir. Mas eu já tentei tanto, e já fiz tantos planos, e parece que Deus não quer este caminho para mim, pois se ele quisesse tudo seguiria fluindo, e eu seria rica, reconhecida, amada. Aquele famoso “não era para ser”, pois depois da esquina aparecem os amigos que te convidam para o jantar caro, e te convencem que tudo o que você precisa é de um celular novo, e te contam da viagem dos sonhos que bem poderia ser seu sonho também.
O difícil é não desanimar. Vai ter dias que não virá nem uma palavra sequer. Nem uma única ideia original. Vai ter dias que nada fará sentido. E neste dia parece que o que você deveria fazer – pelo menos é isso que li nos livros, neste dia você deveria descansar. Experimentar ficar ali na postura da criança, com a cabeça baixa implorando para que este dia passe logo e leve o cansaço. E pedindo para que a chuva vá embora, e leve o frio e o desânimo que se instalou na sua alma e não tem a menor intenção de ir embora.
O difícil é não se esquecer. Não se esquecer do que te trouxe até aqui. Não deixar a pequena chama se apagar, porque apesar da frase ser brega é bem assim que a gente sente. Aquele primeiro passo lá do começo, ele poderia ser visto como uma fogueira, a chama bem lá no alto, um fogo quente que te faz acreditar que você é invencível e que tudo é possível, pois este fogo é poder e ele não passa desapercebido. Mas depois de muitos passos, se você não achar lenha (seca), se você não assoprar a brasa, se você não cuidar do fogo, ele apaga, e aí as cinzas talvez te lembrem de quando seus dias também eram cinzas e seu coração já nem saiba mais por que você deu aquele primeiro passo.
O difícil é continuar contando uma boa história. No final, é tudo ponto de vista. Eu escrevo, e faço palestras, e domino o tempo compartilhado com minhas histórias, e talvez por isso você não se reconheça como um contador de histórias também. Mas todos somos. Todos contamos histórias em nossas mentes o tempo todo. E editamos o passado. E prevemos futuros bons e ruins. E sabe que essas mesmas histórias viram sintomas, e o coração aperta, e a mão começa a suar, e vem uma lágrima e a certeza de que nada disso era para você e que seu pai tinha razão e que segurança é a única coisa que importa. Mas depois parece que surge outra voz, que conta outra história, e que te aponta aquela única pessoa que se conectou com o que você fez ou disse e que te mostra que este é sim o sentido e que você deve continuar.
Uma coisa só é construída com o tempo. E dentro do tempo sempre existirão os dias bons e os dias ruins. E existirão outras ideias muito mais sedutoras. E o medo de ficar doente e não ter nada nem ninguém. E a alegria de estar viva. E existira uma história, que hoje parece uma e amanhã já vai ter outra cara. Porque isso é viver. E não há fórmula, nem caminho. Essa história de dar o primeiro passo, e se isso é que é difícil, ou se é o segundo, ou se é não desistir, ou se é sucumbir, tudo é história e no final a grande pergunta talvez seja qual história você quer contar. Ou melhor, como você contará esses passos que você deu achando que quando chegasse lá, então seria feliz e amada.
Um agradecimento especial ao meu companheiro de vida e de narrativas, Jaya Vitali, que me ensina, me inspira e me ajuda a sempre contar boas histórias sobre mim, sobre nós, sobre a vida.
Neste mês De Dentro Para Fora completa seu primeiro ano de vida e também aprendi com o Jaya a celebrar as pequenas vitórias do caminho 🥳 sigo não desistindo de escrever e de celebrar, sempre.
E te agradeço por estar aqui. Por me acompanhar, talvez desde o início, talvez até antes disso, talvez desde agora. Ainda assim, agradeço. Junto com este primeiro ano, chegamos aos 300 assinantes. Quanta emoção! Uma comemoração dupla! A sua leitura e a sua companhia são os meus grãozinhos de areia na construção dessa história que tenho tanta alegria em contar.
De fora para dentro
Sempre em Frente – o filme que eu queria que todas as pessoas assistissem, pois é das coisas mais bonitas que vi nos últimos anos
Entrevista com o piloto Antonio Sena – um impressionante relato sobre não desistir
As voltas que a vida dá, ou outras histórias possíveis da
Obrigada por chegar até aqui 🌻
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bom te acompanhar até aqui, um ano, já? Sempre aprendo com teus escritos, Bruna, agradeço que você vença o difícil e persista, pra sorte de quem te lê.
Amiga, parabéns!!!
Obrigada por escrever e insistir - todos os dias - em ser quem você é! Obrigada por estar aqui dividindo sua voz comigo!
Beijo!