Nunca fui muito fã da palavra disciplina. Acho pouco convidativa e um tanto rígida. Quando penso nela, logo me vem à mente a ideia de sofrimento. É preciso passar por cima das vontades e das intempéries para que a disciplina que imagino se faça presente.
Apesar de me ver encurralada por esta ideia que criei, entendo os ganhos que vêm junto com este fazer diário, este compromisso com algo que, de uma certa forma, compreendemos que nos trará benefícios.
Minha experiência de vida, em especial este olhar atento para os ciclos da natureza, me faz perceber que saber fluir é uma qualidade essencial para se viver. O ingrediente necessário para que a repetição possa acontecer sem ultrapassar uma linha respeitosa consigo mesma.
Quando volto meu olhar para os meus vinte e poucos e observo minha rotina, consigo ver ali algumas sementes de hábitos que tenho hoje, porém ainda sem consistência. Se havia um compromisso verdadeiro, este era com o trabalho e com o “fazer dinheiro”, a motivação que me fazia levantar da cama todos os dias e sorrir meu sorriso pontual.
Muita coisa me aconteceu de lá para cá e tocar a ideia da finitude me transformou por completo. A vida precisava ter sentido no hoje e a saúde não poderia ser perdida de vista.
A primeira vez que me perguntaram o que você faria se dinheiro não fosse importante? não consegui chegar à resposta alguma, até porque, acredito que para a maioria de nós, encontrar uma resposta dessas leva tempo. Mas uma ferramenta que foi importante nesta construção foi uma meditação guiada para que visualizasse o que seria um dia comum ideal.
É fácil pensarmos em ápices da vida: se formar na faculdade, viajar sozinha, sair da casa dos pais, mudar de cidade, se casar, ter um filho, etc. Claro, exemplifiquei com os sonhos da minha querida geração millennial, que podem/devem ser atualizados para a sua, mas que não implicam na compreensão do conceito, pois são situações que chegam e se vão, impossíveis de serem sustentadas por milhares de dias. Já a rotina, essa que pode esmagar ou dar algum sentido à vida, é mais difícil de ser visualizada.
No todo dia tem que caber lavar a própria roupa, arrumar a cama, fazer comida. Tem que existir espaço para pagar os boletos, acordar de mal humor, se desentender com alguém que você ama. Mas precisa ter também um tempo para cultivar aquilo que te faz bem, pois, não se engane, quando a morte estiver bem perto, é o todo dia que vai se destacar na balança.
Na última newsletter, falei sobre o hábito da atividade física consciente, conectada com o corpo de hoje. E movimentar o corpo com consistência é algo que tem me trazido uma imensa gratidão à cada Bruna do passado que enfrentou a preguiça, vestiu a roupa de ginástica e foi.
E agora, já chegando neste clima de final de ano, celebro também está trigésima terceira newsletter escrita e enviada.
Talvez você olhe para essa conquista e discorde de mim, dizendo que tive disciplina de aparecer semana sim, semana também. Mas prefiro olhar para este momento e celebrar apenas um compromisso cumprido.
Lançar uma newsletter no início do ano foi me lançar ao desconhecido. Apesar de já escrever há algum tempo e ter publicado um livro, nunca havia experimentado criar com prazo, muito menos em manter um ritmo de aparecer com uma periodicidade definida.
Durante o ano, mudei o nome da newsletter e passei de envios quinzenais para semanais, ainda sem saber se daria certo. Também cabulei uma ou duas semanas, afinal, levo a sério a questão do fluxo.
E é provável que você não saiba, mas em cada dia que revisei um texto, copiei na plataforma, revisei novamente e apertei o botão de envio, senti um frio na barriga. Um medo de falar besteira, de não ser interessante. Medo de desagradar ou fazer papel de boba. Medo de me expor mais do que deveria. Ainda assim, sempre apesar de, consegui encontrar alguma coragem e enviar.
E sabe o que aconteceu? Alguém leu, alguém comentou, alguém respondeu este e-mail, alguém me mandou uma mensagem no privado, alguém compartilhou, alguém encaminhou para uma pessoa que precisava ler o que estava escrito. E cada pessoa que abriu este e-mail me recarregou com pequenas doses de confiança para aparecer de novo, e de novo, e de novo.
Em algum lugar do meu inconsciente existe a ideia de que eu desisto das coisas. Já desisti de muitas, é verdade. Ainda assim, por vezes, a sensação que fica é que persistir é impossível. Apesar de tudo, consegui manter o ritmo. Consegui encontrar inspiração para falar sobre algo em todas essas edições. Consegui me sentar frente à página em branco, escrever, apagar, escrever de novo e decidir que era hora de enviar, ou enviar porque já havia passado da hora. Consegui estabelecer uma rotina que me faz bem e dá sentido para o dia de hoje.
Para terminar essa edição emocionada, te agradeço por ter me confiado seu e-mail. Por dedicar alguns minutos do seu dia e me ler. Te agradeço por fazer parte deste processo que tenho vivido, o de aprender este novo ofício que, a cada envio, me faz firmar os pés nessa estrada bonita chamada escrita.
Ainda não irei te desejar um feliz ano novo, pois seguirei com meu exercício de consistência até que a lua cresça e apareça redondinha pela última vez no céu de 2023.
De fora para dentro
Esse texto da
que conversa com o depoimento de hoje e que me representa em tantas coisas que não falei aquiEsse texto bonito e sensível do
que me emocionouEsse filme delícia para um final de ano conturbado e uma mente cansada
E este último link é de comprar, mas penso que não poderia ser uma recomendação mais adequada ao tema desta newsletter, um convite para quem quer criar consistência em algo novo (:
Até a Lua Crescente!
Obrigada, mais uma vez, por chegar até aqui.
Obrigada, Bruna! Gosto muito de ler o que você escreve! Abraços.
Essa dança entre a rotina e a maleabilidade. Eu tento dançar ela, confesso que pendo mais para o lado rígido do que o flexível, mas vejo hoje beleza em ser firme em certos costumes que me fazem cuidar da saúde física e mental. Sempre um desafio, o tal do equilíbrio é coisa que flutua e talvez seja isso, uma busca constante.
Obrigada por não desistir e escrever sempre sobre temas tão bacanas de dialogar Bru.
😘😘