Vivi anos intensos. A cada mergulho, uma transformação que para muitas pessoas se estenderia por anos, e para mim se consolidava em poucos meses. E quando imaginava que finalmente iria respirar, lá vinha outra onda, me jogando de volta para as profundezas, querendo mais e mais de mim.
Os anos foram poucos, se contássemos no calendário não ultrapassariam 1.800 dias seguidos, mas dentro de mim este tempo se passou como uma vida.
Por um lado, sinto que foi necessário. Era como se precisasse desses mergulhos para então poder começar a viver de verdade. Abracei todas as mudanças, vivi com toda a inteireza possível e ainda transformei em palavras que estão espalhadas por aí.
Já faz algumas semanas que observo 2024 chegando e faço o tradicional balanço do ano, um ritual que acontece primeiro dentro de mim e depois vai se desenhando no mundo de fora, em planejamento e desejos por tudo o que irá se iniciar.
No passado fazia muitos planos – tantos, que já tinha até a minha aposentadoria projetada. Aí a vida veio e me mostrou que não temos controle e, por mais alguns anos, desejei apenas não atrapalhar os planos divinos. Hoje, tentando encontrar um ponto ideal no meio do caminho, busco direções – uma forma de intencionar um rumo, mas também deixar espaço para o inesperado. É fácil? De jeito nenhum. Mas, ainda assim, tento.
Olho em retrospectiva e vejo o quanto realizamos, eu e o Jaya, meu companheiro, neste ano que se encerra. E apesar da motivação estar clara, de ver o esforço se refletir em aprendizado e trabalho, foi um ano corrido. Um ano em que falei a palavra “cansada” mais vezes do que gostaria. Portanto, se a vida me conceder apenas um desejo, espero que 2024 seja um ano com mais tempo.
Talvez os excessos sejam frutos de um ano em que a pandemia foi se tornando memória, algo como “tirar o atraso” (como se fosse possível, claro). E reconheço em mim também uma certa urgência. Correr para realizar tudo não antes que o ano termine, mas sim, antes que o mundo acabe. As guerras e a crise climática foram gerando ansiedade dentro de mim (além de dor e tristeza).
Há também uma outra perspectiva, essa em uma esfera pessoal, que é o desejo de fincar os pés e produzir cada vez mais neste novo caminho profissional que trilho. Apesar de eu saber que leva tempo, há uma pressa em me estabelecer, e o mundo digital e a comparação sem fim não ajudam nem um pouco.
Eu sei que tem o dia a dia e a conta a pagar. Mas quando consigo fazer pausas e refletir com calma, me lembro da falta de controle e da lembrança do que realmente importa. E agradeço por conhecer o caminho de volta.
Para este ano que se inicia, minha meta é não perder de vista a lembrança de que acordar é sempre um milagre. De que compartilhar essa experiência com quem eu amo é o que mais me faz feliz. De escrever, antes de tudo, porque sim.
Que 2024 venha com pausas, para que eu saiba, sem precisar de alguns segundos, que dia da semana é hoje. Para que eu possa me deitar na rede da varanda e observar o tom amarelado ir sumindo do gramado até desaparecer no horizonte. Para que eu possa cuidar das minhas plantas reparando em cada folha seca e cada botão novo. Para que eu possa me nutrir com alimentos cozidos, nutrir minha alma com livros e filmes e músicas que são produtos do sentir profundo, nutrir minhas relações com inteireza.
Quero uma vida com mais vida.
E por isso esse título que pode ter te deixado confusa, mas que para mim diz de um ano que passe lento, quase como chegar em dezembro com assombro de quem achou que ainda era abril.
Caminhar
Quando caminhamos mal sentimos o chão e os pés, então proponho uma contemplação diferente. Quando caminhar, tente dar cada passo presente. Você vai perceber que cada pisada na terra nos lembra que estamos no aqui e no agora, ainda que estejamos entre correr com a mente para o passado ou futuro. Cada passo é um momento único e um conjunto de passos define para onde vamos na vida. Coloque seus pés no chão e reflita: para onde e de que maneira você quer e precisa caminhar agora?
Cartinha de um oráculo que não sei o nome. Se descobrir, atualizo os créditos na versão web 😊
Um ano em três na prática
Algumas coisas que desejo colocar minha atenção:
Diminuir a lista de leituras e deixar que as leituras decantem dentro de mim
Me dedicar mais à newsletter e a este conteúdo que fica no seu e-mail para ser lido quando houver tempo ou ser deletado até que o próximo chegue – e menos às redes sociais e aos conteúdos efemeríssimos
Exercitar o microtédio (pequeniníssimos momentos de pausa) sem o celular nas mãos
Descansar – isso que deveria acontecer naturalmente, mas às vezes precisa ter espaço reservado na agenda
Fazer uma coisa de cada vez – pois, confesso, lavar a louça e escutar o podcast tem um quê de aproveitar o tempo ao máximo
Dedicar mais tempo a atividades fora das telas – quem sabe, terminar o próximo ano com um cachecol de crochê nas mãos
De fora para dentro
O tempo é desses temas que nos aflige a todos e, na edição de hoje, ficam dicas de leituras de pessoas que também escreveram sobre ele. Para serem lidas com calma.
A news da
e a ideia de que quem pilota o tempo somos nósA news da
o e seu cachorrinho foto ensinando sobre o tempoE mais uma dela, pois eu amei tanto as duas que não poderia escolher apenas uma.
A news da
e e um compilado que amarrou vários pensamentos também sobre ele, o misteriosoE sobre a necessidade da vida para além das telas, esse relato bonito da
Júnnia, neste ano resolvi trocar o FutureMe pela carta em papel!
PS. Quando o FutureMe me enviou a carta do ano passado confesso que ri com tanta riqueza de detalhes de onde queria chegar e distância do lugar em que estou! O plano deveria ser sempre 70% imprevisto e 30% para alguma forma de desejo (:
Nos vemos no novo ano, em outro tempo.
Até lá <3
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Bruna, são tantas as possibilidades e caminhos que temos hoje, que nos fascinamos diante deste leque. Queremos fazer tantas coisas, que o tempo nunca é suficiente. Para resolver a questão, chamamos a prioridade, mas o problema é que nem sempre sabemos distingui-la. Gostei quando você falou que queria uma vida com mais vida. Isso é o que nos faz feliz. Sabemos disso, mas a toda hora esquecemos. Nos mantermos firmes nos nossos objetivos e propósitos parece que precisa andar de mãos dadas com o próprio fazer e viver. Tento todos os dias lembrar das minhas crenças para não me desvirtuar delas, mas isso resolve uma parte. Tem as coisas que não controlamos e nos últimos tempos eu mesmo estou pausando minha vida por forças maiores. Pense que seus desejos e planos para o próximo ano já são o primeiro passo dessa caminhada, então é seguir em fente. Acredito que quando a gente começa a fazer o tem que ser feito, o universo vai mostrando o caminho e as ferramentas para chegar aonde a gente quer. Que você tenha um grande ano pela frente!
Bruna, que alento ler seu texto hoje! Também tenho caminhado no sentido de ter uma vida com mais vida, aprender a dançar com a vida, falei sobre isso na minha última edição. Aprender e errar os passos dessa dança, sem medo de perder os compassos.
Fiquei muito feliz em ver que citou a Resiliência aqui, isso para mim, que estou começando nesse universo das newsletters, é uma alegria muito grande e também uma realização. Obrigada! E amei ver suas cartinhas prontas :) é um processo tão gostoso né, escrevo as minhas essa semana!!
Grande abraço, um feliz 2024! Júnnia