Em um tempo cada vez mais escasso e com um universo de conteúdos tão maravilhosos, fico me perguntando: vale a pena enviar um texto apenas porque disse que enviaria?
Estava me atualizando nas newsletters da semana e me deparei com a Vanessa da Segredos em órbita falando sobre a ausência, com a Paula Maria da
contando que foi atropelada por maio, com a da Tá Todo Mundo Tentando contando sobre a pausa não planejada, além da da Espiral que escolheu falar sobre o sono em uma edição em plenas férias e da compartilhando seu medo de se esgotar criativamente.Confesso que a primeira coisa que pensei foi que talvez os astros tivessem alguma resposta para essa sincronicidade toda. Escassez criativa e/ou a vida que atropela e passa por cima dos nossos projetos pessoais é algo que realmente acontece. E ler tanto sobre o medo de se esgotar, quanto sobre a necessidade que, muitas vezes, se impõe de ter que parar, conversaram tanto comigo nesta semana. Além de serem sempre afagos no coração, já que vão na contramão da produtividade e do espetáculo que a sociedade tanto espera de nós.
Preciso te contar que comecei essa edição umas 5 vezes e, além deste texto inteiro pronto, escrevi mais dois. No texto original, ainda ponderava se o melhor seria enviar, mesmo sem certeza, ou se a ausência seria a melhor escolha. E agora, no envio já atrasado, revisando e tentando me decidir sobre qual postar, retorno neste que penso que seja o texto que deva sair – menos por opinião, mais por intuição.
Toda essa confusão parte da ideia de que valorizo seu tempo da mesma forma como gostaria que o meu tempo fosse valorizado – traumas de reuniões que poderiam ser um e-mail. Mas fiquei com essa inquietação: um pouco de “bom o suficiente” não ajuda a normalizar a pessoa comum, que vive uma vida comum, e que vai passar, como qualquer outra pessoa, por momentos de excelência e de banalidades?
O algoritmo já é cruel demais. Ou é um vídeo instantaneamente interessante, ou só sua mãe e mais umas três pessoas vão ver. Ou a foto é semiprofissional, ou você terá que se esforçar muito para receber uma meia dúzia de likes. E vamos populando nosso inconsciente com conteúdos hipnóticos (como dizem os marketeiros) que são apenas fragmentos de excelência da vida de cada um, diminuindo nossa tolerância pela grande massa ordinária de todo o resto da vida.
Me desculpem, mas esse é um texto trivial. E vêm com o gostinho do medo de não ser extraordinária o tempo todo. Algo que eu também senti quando recebi o convite para escrever para a coluna A Tal Felicidade, da Veja SP, com curadoria da querida Helena Galante.
Ainda assim escrevi para a coluna. Ainda assim, escrevo hoje para você, sempre com a esperança de que seja bom o suficiente para estes minutos que você me concedeu, neste espaço íntimo que você me permitiu chegar. Aliás, muito obrigada por isso.
Na próxima edição, prometo algo mais inquietante, original ou extraordinário. Ou não. Teremos que esperar para ver.
Que a sua semana seja incrivelmente comum como deve ter sido a semana passada, e como provavelmente será a próxima.
Acho que essa "cobrança" da produtividade nos assombra a todos, especialmente quem trabalha com Internet, quem não é visto não é lembrado e aí a gente se pega entregando o que pode pra não deixar de entregar. Acho que a liberdade da newsletter é essa, sair da lógica das redes de "tem que". Eu tentei ano passado manter uma coluna com regularidade semanal, pra mim não deu, eu preciso processar, talvez num outro momento da minha vida eu consiga, ainda não desisti e é algo que quero, e pensando nisso que você falou sobre a sincronicidade dos textos, me lembrei de um que produzi a partir da news da Luciana Andrade. Acho que acabamos nos retroalimentando, já que consumimos uma rede em comum. Gostei desta edição. Parabéns!
Bruna, vc vem fazendo um bom trabalho e eu mesma já fico esperando a sua news. Não precisa ser extraordinária sempre, o legal é conseguir conversar com o leitor e vc faz isso bem. Até quando acha que não encontrou algo relevante consegue dividir isso e termina dizendo algo. E então se torna natural e faz parte.