Não foi planejado escrever sobre as estações do ano, mas como 2024 teve pernas próprias, acabou que este tema foi o que fez sentido para mim – e espero que faça sentido para você também.
Estamos novamente em dezembro. Não tenho bola de cristal, mas me arrisco a dizer que se aconteceu de, por acaso ou destino, você abrir esta edição, provavelmente esteja contando as horas para que o ano acabe, ao mesmo tempo em que esteja torcendo para que essas horas sejam o suficiente para caber tudo aquilo que precisa ser feito. Bom, pelo menos por aqui tem sido assim!
Fico me perguntando se um fim de ano no hemisfério norte é sentido como aqui, em que a agitação, a ansiedade e a exaustão de fim de ciclo se sobrepõem ao dia longo e energético de um verão, especialmente em semana de lua cheia, o ápice do ápice.
Durmo e a grama dobra de tamanho. Pisco, e os passarinhos fazem ninho até dentro do armário da lavanderia (uma fofura). Fecho a porta da varanda para dormir enquanto os sapos estão a todo vapor na cantoria.
Neste dia longo, que se encerra, mas de alguma forma se mantém pulsante com a lua iluminando tudo, só nos deixa ainda mais ativos. É a energia do jovem, cheio de vigor e disposição, que vem ao encontro deste fim de ano tão cheio de desafios individuais (também ousaria dizer que você teve os seus, afinal, viver não costumaa ser fácil pra ninguém) e coletivos (vem chorar comigo com essa retrospectiva).
Este foi um ano completamente diferente do imaginado. O que, para falar a verdade, é o que costuma acontecer, porque, afinal de contas, ninguém consegue ser tão criativo quanto a vida, universo, Deus ou como você quiser chamar essa força que surpreende todo e qualquer bom planejamento.
No meu caso, 2024 foi especialmente desafiador, de entrar em contato com a dor emocional e física e ser novamente lembrada de que a existência é frágil e finita – um gosto de inverno, que foi a única estação que não teve edição desta newsletter, pois foi escrita com o corpo.
Mas, diferentemente de outros anos difíceis que já vivi, este teve um contraponto: o Mundo Futura, um projeto levou oficinas artísticas para 175 crianças de Guarulhos que, todas as quartas-feiras, me lembravam dessa energia do início, da novidade, da inocência, da esperança, da pulsão de vida e da criatividade. Puro verão.
As duas experiências acontecendo em paralelo tiveram esse verniz de existência: a morte e o nascimento se contrapondo o tempo todo. As estações do ano nos lembrando que é preciso um ciclo inteiro para pulsar de novo. Cada etapa faz parte do processo. E o mais importante: nada dura para sempre. Nem a dor, nem a alegria. Tudo se inicia e se encerra, ininterruptamente.
Apesar dos envios em trocas de lua, essa newsletter não está relacionada à astrologia, até porque eu pouco entendo sobre o assunto. Também não tenho a menor capacidade de escrever à partir de um cunho científico (apesar de ter prestado biologia no vestibular, a louca geminiana), mas nestes quase 5 anos morando no sítio, posso afirmar que reconhecer os ciclos têm sido uma forma importante de lidar com o que se passa dentro e fora de mim.
Perceber que na natureza há sempre um momento para plantar, outro para nascer, depois um terceiro para crescer, para então começar a declinar e, por fim, morrer, é aprender a respeitar os tempos da nossa vida pessoal também. De alguma forma, experimentar frear essa pressa que nos atormenta, essa urgência que nos faz trabalhar ininterruptamente, esse desejo de estar sempre no topo, sem se lembrar de que o descanso é parte fundamental para que haja energia e disposição para realmente aproveitar o dia longo.
Este verão, que chegou ainda fazendo um contraponto ao repouso devido a última cirurgia1 (que, tenho fé, foi a última da vida), me preenche de esperança. Mesmo com pendências sempre intermináveis ainda para dezembro, quis escrever esse texto curto e meio sem jeito (o que a falta que a falta de prática não faz, não é mesmo?), porque senti que precisava celebrar. É como se pudesse caminhar pelas estações e cruzar uma linha de chegada, tal qual uma maratonista, cansada e vitoriosa. Estou viva e com o coração e a alma prontos para viver tudo o que há.
Sem grandes planos, afinal, faltou tempo para planejar alguma coisa, mas deu para lidar com o imponderável, olha que avanço! Mas cheia de vontade de começar tudo de novo e com muita intenção de escrever novos rumos para a minha história. Vamos juntos?
Confort Leituras
Meus desafios já vieram com doses altas de emoções e ansiedade e, por este motivo, escolhi ler em 2024 livros que me trouxessem uma sensação boa. Não tomei notas, não tenho pretenção de fazer um top livros do ano, mas quis compartilhar aqui os que aqueceram o meu coração como um antídoto à essa correria de final de ano sem fim.
O Mundo de Sofia, que gostaria de ter lido aos 15, mas que com certeza faria sentido reler como adulta
Se Deus Me Chamar Não Vou, para continuar no clima da pré-adolecencia, este livro que aborda temas profundos, mas à partir do olhar dessa menina doce Maria Carmem
Poeta Chileno, uma leitura que tem um gosto especial para quem escreve
108, da
, que é pura poesia contemplativaA Cabeça do Santo, e a magia com os pés no chão
Oração Para Desaparecer, minha companhia neste fim de ano, incentivada pela
E aceito recomendações de outros livros gostosinhos por motivos de ainda estar digerindo este ano.
Obrigada por chegar até aqui 🌻
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Fiz uma cirurgia eletiva para retirada dos ovários como prevenção, fechando assim todas as portas para que meu corpo possa se manter saudável.
Espero que 2025 já tenha começado com todas as alegrias, Bruna :)
Olha, bru, não sei, mas esse texto foi o melhor seu que já li! Ferrugem também faz bem :D Livros que amo: a coleção Gilead da Marilynne Robinson, lindos e uma delícia de ler!